Centro Naval de Ensino a Distância
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Aprender a aprender |
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Todos os comportamentos de um indivíduo remetem para três dimensões psíquicas do nosso ser - a cognitiva, a afectiva e a volitava.
Podemos por isso dizer que a acção de aprender corresponde a uma dimensão cognitiva: um saber relativo à maneira de aprender, a uma dimensão volitiva: uma vontade de aprender, e a uma dimensão afectiva: um gosto por aprender. Aprender, supõe assim um saber aprender, um gostar de aprender e uma vontade de aprender. A ausência de uma ou outra destas dimensões acarreta consigo a ausência de aprendizagem ou pelo menos uma aprendizagem menos conseguida.
A investigação sobre a aprendizagem fez ressaltar que aprender corresponde à realização de cinco funções observáveis:
· O aluno tem de escolher a situação em que vai executar as tarefas necessária a aprender. Estas situações caracterizam-se pelas suas circunstâncias espaciais, temporais e de organização social;
· O aluno tem também de escolher um objectivo e uma caminho para o atingir o que quer dizer que ele tem de ter um projecto;
· Aprender implica também o desenvolvimento de atitudes adequadas, em particular uma atitude positiva face ao objecto de aprendizagem;
· São as atitudes e os projectos que permitem que o aluno coloque em acção a função de tratamento da informação;
· Ao tratar a informação, numa situação que domina, com um projecto e atitudes positivas o aluno vai verificando o que já fez e o que lhe falta fazer, distanciado-se assim das suas próprias aprendizagens.
Para compreendermos o que é aprender temos de considerar simultaneamente as cinco funções indicadas e as três dimensões cognitiva, afectiva e volitiva que lhes correspondem.
Esta forma de encarar o que é aprender evidencia que o exercício das funções acarreta uma modificação na estrutura que as realiza. Esta estrutura, correspondendo ao sujeito-aluno, em face de uma situação e de um objecto de aprendizagem. O que o aluno é, influencia o que ele faz, mas também o que ele faz, modifica o que ele é.
Considerar o acto de aprender na sua globalidade é ter em conta simultaneamente a estrutura que o realiza - o sujeito, o objecto e a situação - e as funções que ela coloca em jogo durante o processo de aprender..
Aprender é um processo dinâmico de aquisição de conhecimentos ou comportamentos novos que não se faz a partir do nada. Tudo o que se constrói de novo assenta as suas bases em aquisições anteriores através duma actividade de associação e integração. No centro da actividade de aprender encontra-se sempre uma procura de ligações e de organização dos dados recolhidos.
Quando a aprendizagem se refere por exemplo a um comportamento o que está em causa é a capacidade que o aprendente tem para ligar e articular uma série de acções que deverá ser capaz de reproduzir. Neste caso a passagem do fazer ao aprender a fazer remete para a consciência da maneira de fazer. Trata-se portanto de uma actividade de explicação e explicitação das ligações existentes não só entre dados cognitivos mas também entre os comportamentos em causa.
Estas aprendizagens só acontecem quando o aprendente, para além de dispor dos dados necessários e dos conhecimentos e comportamentos prévios , faz da reconstituição dos laços um objectivo explícito. A dinâmica da aprendizagem corresponde portanto a uma construção cujos alicerces são as aprendizagens, muitas vezes espontâneas que vamos realizando no quotidiano. São os conhecimentos prévios que abrem os caminhos para novas aprendizagens.
Ajudar a aprender coloca assim a questão de propor problemas e questões que não constituam para o aprendente um fim em si, mas que remetam sempre para o saber correspondente e para o aprender. É importante que os objectos de aprendizagem não sejam confundidos com os problemas e exercícios que os utilizam.
A dinâmica da aprendizagem põe em jogo a própria evolução da estrutura e das funções de aprender numa perspectiva de mudança do próprio ser. Passamos do fazer que é uma produção a aprender que é uma transformação.
Se para aprender é necessário tomarmos consciência das nossas maneiras de fazer, para aprender a aprender teremos de tomar consciência da nossa maneira de aprender. Aprender é assim construir um fazer para refazer e aprender a aprender é construir uma aprendizagem para melhor aprender.
A aprendizagem deve desencadear uma dinâmica em que a partir do dados adquiridos se processa uma evolução que permite que o aprendente melhore progressivamente a sua própria capacidade de aprendizagem.
